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Says something like..."You and me babe, how about it?"

Calendário

Será que hoje você vem me encontrar?
Foi meu aniversário, e não achei razões pra comemorar
Eu não vou reclamar se você mentir
Nem mesmo de fingir que gosta de perder tempo comigo

Eu podia ver até a janela da sua casa nos meus sonhos
Ver seu cabelo balançar no ritmo das folhas
Ninguém me conhece tanto como você
Mas o que me tornei depois de tudo, nem eu mesmo sei

Vi as rosas da primavera definharem
Vi o sol do verão se esconder atrás das nuvens
Só não vi você ali, perto de mim
Mas tão distante que nada lhe alcançaria

Nem todo o nosso tempo juntos
Agora marcado pelas velhas páginas do calendário.

Alma


E é quando o coração bate tão rápido que mal conseguimos respirar, quando você lê trocentas vezes a mesma mensagem e ri sozinho, quando alguém é seu único motivo pra levantar da cama, quando um passado triste e melancólico é esquecido por um simples sorriso com uma força descomunal, que devemos pensar: será que é a minha vez de ser feliz?

Evaporar

Nada vai fazer você voltar
Nada vai mudar a direção dessa estrada
E inverter o modo de girar

Parece que a vida sabe o que é ruim
Me fez pensar de mim fora de mim
Dissipar e destruir o que restou

E o pior é que eu não estava lá, nunca estive lá
Não soube como lidar
Só me esconder de tudo que passaria

Mas, ainda assim, sonhei várias canções
Escrevi cada milímetro dos teus olhos
E no fim, vi tudo evaporar

Só queria deixar você saber
Que se um dia eu não acordar
Deixei meus sonhos pra você sonhar por mim.

Fria vida frágil


É assim que corre o tempo, como o frio de um cubo de gelo, capaz de derreter tão rápido que perdemos a noção de sua forma. Em segundos, ele se perde entre mil pedaços, cai numa imensidão de angústia, e nem com os mais ferozes instintos, ele voltará ao início. As gotas de água já não pertencem à matriz, agora são do mundo e de onde ele as levar.

E com um toque de ironia, olho para o alto e vejo a chuva encerrar o ato.

Desembarque

E parece que o barco partiu, junto com todos os meus anseios. Em um segundo, o fluxo interrompe e a estática enche o ambiente. E desse barco descem todas as vidas por um único corredor. Porém, apenas uma dessas misteriosas vidas me interessa.

Nada se move, a não ser meus olhos, em todas as direções. Eles procuram os detalhes que um dia trouxeram tanta felicidade. Caçam cada movimento, cada pegada na areia, cada onda que molha meus pés. Viajam do céu ao mar em milésimos e fotografam cada estrela, como se fosse a última vez que fossem olhar para elas.

Eles procuram você.

Dezembro

Não vim da guerra ou do caos
Apenas lembrei de você
E há quem me veja hoje
E não perceba o entristecer

Deve ser o aprendizado
De tantos anos em tormento
Que forjaram uma máscara
Onde vivo me escondendo

Por dentro há colapso
Laçado em fios de amargura
Sem nome e sobrenome
A passos da loucura

Por dentro sou cinzas
À mercê do vento frio
Ancorado no passado
De um dezembro tão vazio.

Atrito

Em tempos de agir sem pensar
Fico apenas com o silêncio dos teus olhos
Que de tão fugazes, me dizem o caminho
Sem me deixar tocar o chão

Tuas frases que acendem estrelas
Sugam o ar de meus pulmões
Para que eu asfixie lentamente
Ao ver você me derrubar

Tanto faz, cansei de esperar
De contar minhas idéias
Que mal cabem em uma pauta
Sobre minhas fugas e glórias

E as paredes se cortam
Marco meus joelhos na dobra das lajotas
Fito a penumbra, parto-me em mil pedaços
Enquanto caio no frio de outono

Procuro o atrito, procuro resistir
Mover-me pelo vazio e sentir meus pés
Mas não há nada, senão o ar
E seus lábios gelados a me beijar

Assim teu dou meus sonhos
E meu suor enfermo
Que fique tudo contigo
É um destino sem conserto.

Pássaro

A liberdade tem seu preço
O mundo é cheio de etiquetas, algumas em liquidação
Parece que a solidão cai bem, quando não se está bem
E num piscar de olhos, a vida escorre pelas ruas

Dias de vitória, me sinto tão bem nestes dias
Não paro pra pensar em nada, nem vejo a estátua daquela praça
Seu riso esculpido pela natureza que lhe observa
Seu olhar que diz tudo ou nada

Às vezes, pareço Ícaro em suas asas de cera, prestes a cair no mar
Pareço um pássaro morto, e minha sombra ainda insiste em voar
Nem a maior cratera da lua poderia abrigar essa inquietude
Mas visto minha roupa, sigo em frente, sem medo de perder

E entre sprays nos muros, fumaça nas ruas, homens armados
Eu fecho a porta e desço as escadas.

A valsa de águas vivas

Terminar seria o fim
Se não fosse uma variável
Nos beijos de quem transmite
Em línguas que eu nem sei

E eu não tenho a tecla "sap"
Para poder ler entre as linhas
Quando o sal distorce a visão

E entre bolhas, tento soltar meus pés
E as algas querem dançar
Só mais uma valsa

Somos um casal rodando entre as águas vivas.

Horizontes de outono

Cada vez que te encontro
Eu me perco em devaneios
Na embarcação que me leva sem destino
Ao oceano destes dias

Em que avistei tantos portos
Que meu diário de bordo
É incapaz de saber dizer
Quanto tempo faz

Meu encanto se foi com o vento
E partiu-se em pétalas
Que dançam ao redor de teu farol
A implorar pelo apreço de teu olhar

Quando o orvalho em que minha nau navega
Não pode mais esconder-se
Das lágrimas dos anos que perdemos

Mudando nossos rumos
E rasgando nossas velas
Pra prosseguir a esmo

E é fato que não sabemos
Se voltaríamos a encontrar
O que deixamos o tempo ruir fechando os olhos
Mas mesmo assim eu queria tentar

E eu nem sei se vou saber voltar.

Lágrimas

Começa a chover
E a lágrima vai se misturar
Com a água que cai do céu

E ao anoitecer
Em vão eu tento encontrar
O que de mim você levou, pra sempre

E em cada poça dessa rua você vai me ver
Em cada gota dessa chuva você vai sentir minhas lágrimas

E a cada dia da sua vida você vai chorar
Lágrimas sofridas que não vão somar um décimo do que eu sofri
Tudo que eu sofri.