Pássaro

A liberdade tem seu preço
O mundo é cheio de etiquetas, algumas em liquidação
Parece que a solidão cai bem, quando não se está bem
E num piscar de olhos, a vida escorre pelas ruas

Dias de vitória, me sinto tão bem nestes dias
Não paro pra pensar em nada, nem vejo a estátua daquela praça
Seu riso esculpido pela natureza que lhe observa
Seu olhar que diz tudo ou nada

Às vezes, pareço Ícaro em suas asas de cera, prestes a cair no mar
Pareço um pássaro morto, e minha sombra ainda insiste em voar
Nem a maior cratera da lua poderia abrigar essa inquietude
Mas visto minha roupa, sigo em frente, sem medo de perder

E entre sprays nos muros, fumaça nas ruas, homens armados
Eu fecho a porta e desço as escadas.

A valsa de águas vivas

Terminar seria o fim
Se não fosse uma variável
Nos beijos de quem transmite
Em línguas que eu nem sei

E eu não tenho a tecla "sap"
Para poder ler entre as linhas
Quando o sal distorce a visão

E entre bolhas, tento soltar meus pés
E as algas querem dançar
Só mais uma valsa

Somos um casal rodando entre as águas vivas.

Horizontes de outono

Cada vez que te encontro
Eu me perco em devaneios
Na embarcação que me leva sem destino
Ao oceano destes dias

Em que avistei tantos portos
Que meu diário de bordo
É incapaz de saber dizer
Quanto tempo faz

Meu encanto se foi com o vento
E partiu-se em pétalas
Que dançam ao redor de teu farol
A implorar pelo apreço de teu olhar

Quando o orvalho em que minha nau navega
Não pode mais esconder-se
Das lágrimas dos anos que perdemos

Mudando nossos rumos
E rasgando nossas velas
Pra prosseguir a esmo

E é fato que não sabemos
Se voltaríamos a encontrar
O que deixamos o tempo ruir fechando os olhos
Mas mesmo assim eu queria tentar

E eu nem sei se vou saber voltar.