Liberdade, enjoy


Sentes falta dela? Achas que tem demais? Difícil colocá-la em um único conceito. Cada um tem sua concepção de liberdade. Já vi gente dizer que não a tem, que lhes foi tirada. Muitas vezes reclamam de barriga cheia, existem pessoas que dariam tudo por uma simples caminhada na rua, com o cachorro, levando o neto pra passear, ou pra ir comprar pão na esquina de casa. Mas a vida é assim, até o ponto em que ela se faz "presente", não há porque sentir falta. E o velho ditado, onde só se dá valor à alguma coisa quando a perde, mostra sua cara.

Quando acordo indisposto, triste por algum motivo, ou cansado pelas madrugadas em claro estudando, lembro da chave de casa, do ônibus, dos amigos, da comida na mesa, de tudo um pouco. Lembro que sou livre, o suficiente pra me tirar da cama e tentar dar relevância aos detalhes de mais um dia corrido e espero, produtivo. Há correntes sim, em todo lugar, prendendo nossos pontos fracos e tentando estagnar o presente, evitando qualquer passo adiante. Em forma de falsidade, mentiras, rancor, ódio e sentimentos pouco agradáveis, essas correntes tentam aprisionar a liberdade, não a extrínseca, material, mas a abstrata, mental, a mais necessária. Vai de nós saber onde essas correntes estão, e dai quebrá-las, a qualquer custo.

Liberdade, talvez seu conceito não importe tanto agora , contanto que não existam correntes.

À música

Como viver afinal, sem música? É fácil saber o que uma simples música pode passar, sente-se toda forma de entrosamento entre as linhas racionais, deitadas em berço de lógica, e as mais primitivas emoções, sentimentos arcaicos, mas não menos importantes na passagem de uma melodia entre os nossos timpanos. Dentro dos dias mais longos, ou dos momentos mais curtos, torna-se presente a necessidade de tomar decisões, muitas vezes obscuras, muitas vezes, claras até demais. Espera-se que as consequências de qualquer ato, mesmo que falho, tragam consigo as perdas e as conquistas que nos estimulam a viver a intensidade de cada dia. Com estes atos e suas consequências, faz-se a música presente.

Um presente, presente entre nós desde as sociedades mais primitivas, onde um simples ritmo de um batuque evocava as mais profundas energias e com elas a esperança de um novo dia, onde harmonicamente todos viveriam. Utopia naqueles tempos, utopia hoje em dia, procurar um espaço para a música onde a sobrevivência é quase um dever diário dos menos favorecidos, que com os filhos nos braços e todo o sofrimento de uma vida miserável, negam-se chorar. Difícil imaginar uma brecha, mesmo que mínimamente iluminada, consiga abrigar um pouco de alegria através da dialética dos sons.

À música, depósito de esperança, motivo o qual milhares de vozes e almas se unem em uma só, atribuo o fato de podermos renunciar a tudo, exceto ao amor, lembrado em letras e melodias apenas digeridas por quem sente, come, bebe, vive a música. Um eterno agradecimento por acreditar na bondade e na pureza do ser humano, à música.

CO2, aprecie com moderação

É, antes de mais uma madrugada estudando as peculiaridades da milenar pediatria, deu vontade de falar alguma coisa sobre o CO2, mais conhecido como Dióxido de Carbono. Nada demais saber que esse componente químico é de fundamental importância na nossa sobrevivência. Porém, há tempos ele vem querendo mais e mais espaço no invisível aos nossos olhos. Nós demos a ele, damos diariamente, e não dúvido que quando só existitem galhos, poeira e pneumopatas aos montes, continuemos cedendo o pouco espaço que nos resta para enchermos os pulmões e respirar normalmente.

Ah, de novo esse papo de aquecimento global? Ah, Eu num vou pegar um ônibus pra ir pro trabalho pô, ser assaltado, chegar breado e ainda testar na pele o programa de GTA instalado na cabeça dos motoristas dessas latas de sardinha gigante. E por que esperar até chegar onde eu quero pra me livrar dessa latinha de coca-cola que eu já decorei todas as informações? Se jogar ali na esquina, ninguém vai ver. Ah, mas quando eu chegar em casa, depois desse dia estressante e sem graça, nada melhor do que um banho bem quente, no mínimo uns 20 minutos pra colocar as idéias no lugar. Deixo logo o computador ligado pra não perder tempo com as saudações iniciais do windows e falar com alguém especial no msn, que beleza.

E o CO2, que infernos tem a ver com tudo isso? Nada né, ou Tudo? Ah, se tiver, todo mundo faz essas coisas, quem sou eu pra ir contra a maré? Verdade. Pra que pensar na qualidade de vida dos meus filhos, netos e bisnetos, seu eu já vou ter levado o farelo mesmo?

Melhor ir estudar pediatria que depois de amanhã tem prova.

Cidade cinza

Às 4 horas vejo a mesma cena
Que poderia ter não existido
Porque ontem tudo me pareceu tão chato

Entrei no carro e saí em disparada
Desesperada era a face que amava
Porque ontem tudo me pareceu tão chato.

Ainda é de manhã...

E o pior é que ainda é de manhã. Já vi um assalto no ônibus, já vi um acidente na Almirante, já recebi uma ligação muito estranha, mas engraçada, descobri que a filha do meu amigo nasceu, e nem sequer um toddy eu tomei antes de sair. Medicina é assim, não deixa muito tempo de sobra pra tomar um toddy gelado antes de sair de casa. Mas as coisas são assim, um almoço de 3 minutos, uma coca pra espertar, um trabalho pra entregar daqui a pouco e eu nem comecei a fazer (típico paraense hehe), mas com bom humor a gente vai levando. Essas coisas vão acontecendo rápido, numa manhã, num intervalo de mais ou menos 4 horas, e vão de certa forma pegando a gente de surpresa, de um jeito que só no momento dá pra explicar.

No jornal tiveram 6 mortes à queima-roupa lá na terra firme. Um carro passou, abriram a janela e foi bala pra todo lado. Sabe, coisas assim fazem pensar se realmente vale a pena dar algum valor no ser humano, se vem outro que não dá e tira o mais precioso bem que tu tens. Ainda acho que vale, generalizar é sempre uma faca de dois gumes. O problema é que essa faca fica cada vez mais afiada, menos racional, culpa de quem? Governo, comodismo, educação aos trancos e barrancos, heranças políticas mediocres?

Sabe aquele velho papo de que se cada um fizer a sua parte as coisas podem melhorar? Pois é, ainda sou a favor dele.

A primeira

As vezes bate uma vontade de escrever alguma coisa, mas sabe como é né, o tempo é curto e não avisa que tá passando. A gente nem se toca que foi dia desses a primeira vez. Primeira vez de que? Disso mesmo, de acontecer. Aquilo que foi divisor, separou meio que "sem querer" uma etapa, um momento. Aprender nunca é tarde, eu quero ser velhinho, olhar pro meu casal de netos e ainda conseguir aprender com aqueles gestos totalmente inocentes e desprovidos de qualquer tipo de maldade, coisa que muitas vezes nos falta.

Mas esse dia chega, cedo ou tarde, naquele banco de praça, naquele barzinho domingo a tarde, ou olhando na janela, vendo os carros passarem. Ah, é estranho saber quando ele chega, isso é verdade. A gente para e pensa: depois de tudo isso que aconteceu, que tá acontecendo, e que vai acontecer, eu ainda tô disposto a aprender, a moldar meus erros até que eles não sejam mais uma rotina? Eu digo sim. Por quê? Não sei.

Talvez seja pela vontade de ser diferente de tudo e todos, de não ficar na "mesmisse", de não cair em cima do meu umbigo e ficar rodando por lá até o coração parar de bater. Mas isso eu ainda não sei, só sei que continuo assim, aprendendo com cada coisa que se mexe, tentando crescer, nem que seja um tiquinho de nada. Dia desses eu descubro o porquê.